A Inversão de Papéis Frente à Velhice de Nossos Pais
Por solicitação de algumas pessoas e buscando mostrar uma visão psicológica do assunto, comento desta vez sobre a inversão de papéis frente à velhice de nossos pais.
Vivenciei isso, como expectadora, na velhice de meus meus avós, há uns vinte anos atrás! Agora, ao escrever sobre o tema, ele me remete a meus pais mais velhos.
Em uma visão profissional, a princípio, pontuo que, muitas vezes, nos recusamos a pensar nestes desdobramentos, às vezes amargos, que a vida nos impõe. Por outro lado, devemos e precisamos encarar a realidade. Nascimento, crescimento e envelhecimento fazem parte de todo um processo de vida e estamos acostumados a nos manter no papel de filhos.
Sempre explico, quando atuo em orientação, que cada fase do desenvolvimento de nossos filhos, caminha ao lado do envelhecimento de nossos pais. De início, não refletimos muito a respeito. Envelhecer é um processo contínuo e não nos damos conta das dificuldades reais desse processo, até nos depararmos frente a frente com ele. É quando aparecem dúvidas, inseguranças e os nossos próprios medos.
A mãe, que parecia sempre muito ativa e atenta, agora se mostra mais apática ou esquecida. O pai se mostra mais deprimido e solitário e sem condições dar conta de suas tarefas.
O envelhecimento passa por transformações físicas e também psíquicas responsáveis pela menor velocidade no processamento das informações, deixando a memória mais lenta, e o que consideramos de muita relevância, o aumento das características da personalidade. Mas não precisamos ir tão longe. Às vezes, as dificuldades de cuidar dos pais surgem quando acontece algum acidente, que os impossibilitam de se locomover (quebra de braços ou pernas) e é aí quando precisamos de algum modo auxiliá-los.
Os filhos tendem a ficar inseguros e confusos nesse processo. O pai, que a principio era herói que acompanhava e orientava, se torna o fragilizado, o que necessita de cuidados.
Na sociedade contemporânea em que vivemos onde os filhos trabalham muito, as dificuldades com relação a esses cuidados básicos começam a surgir. Porém se na família existem irmãos, todos precisam ter uma conversa franca sobre a situação dos mais velhos, pois adiá-la só irá aumentar as dificuldades.
Acredito que o primeiro aspecto dentro dessa dinâmica é não infantilizá-los: eles precisam e desejam ser cuidados, mas não podem ser colocados num papel de menos valia, como sinônimo de incapacidade.
Em segundo lugar, os filhos precisam ter uma conversa franca e unificar as informações importantes sobre como os idosos se sentem nesse processo.
Outro aspecto importante é buscar ajuda de todos os familiares, deixando de lado as mágoas e ressentimentos, não dando ouvidos às críticas, se aparecerem. Trazer para participação de todos é o recomendável.
Quando os próprios filhos não podem sair de seus trabalhos, outra atitude que auxilia sobremaneira, é buscar colaboradores (irmãos, parentes etc.) que possam ajudar, bem como estudar a possibilidade de contratar um profissional (cuidador/cuidadora).
Claro que tudo isso vai depender de qual doença ou impossibilidade os pais foram acometidos. Dependendo de cada caso, será necessário um cuidado e atenção maiores.
Em suma, não existe uma receita. A conduta para cada família vai funcionar de acordo com uma maneira própria de lidar com as dificuldades, com a realidade familiar, como encará-la, mas, acima de tudo, exercitando, com muito amor, a paciência e a dedicação, pois isso representa sempre o melhor caminho.
Afinal, lembremo-nos sempre: nossos pais também já experienciaram todos esses sentimentos quando cuidaram de nós.
No Post Cuidar dos pais, inversão de papéis ou retribuição? escrito por Adriana Ishii do blog Santas Mães, você encontra um relato pessoal sobre esse assunto. Clique no título do post ou aqui para ler!